segunda-feira, julho 01, 2002

A Pátria de chuteiras
O clima de Copa do Mundo toma conta do País. O fervor cívico inunda nossas ruas. A Nação se mobiliza para o grande embate. Os grandes problemas nacionais são relegados a segundo plano. O patriotismo verde-amarelo emerge com uma força jamais suspeitada. Senhores circunspectos, madames recatadas e jovens imberbes aprendem ou reaprendem o Hino Nacional, muitos chegam mesmo ao exagero de se levantarem em frente à TV quando da execução do hino. Nessas horas, chego a concordar com um Pensador do Século XVIII, Samuel Johnson, para quem o patriotismo era o último refúgio dos velhacos.

O uso político do futebol, especialmente a conquista de um título mundial, foi sempre um tema de acalorada discussão por setores da esquerda brasileira, com maior intensidade nas décadas de setenta e oitenta do (epa!) século passado. O tricampeonato de setenta foi utilizado com competência e muito êxito pela Ditadura Militar. Enquanto Pelé e companhia maravilhavam o mundo nos campos mexicanos, o pau comia solto nos porões do regime. Eu que sempre fui um torcedor apaixonado, tentei torcer contra o Brasil na Copa de 74. Era considerado politicamente correto torcer contra. Acreditava-se que a vitória da seleção seria também uma vitória da ditadura. Não consegui e lamentei minha, digamos assim, fraqueza ideológica. O carrossel holandês atropelou os canarinhos, perdemos a Copa e nas eleições daquele ano as oposições (MDB) tiveram expressiva votação, vencendo a Arena na maioria dos Estados brasileiros.

Hoje, felizmente, podemos torcer sem nenhum sentimento de culpa. Ninguém razoavelmente sensato acredita que o desempenho da seleção na Copa interfirirá no resultado das eleições de outubro. A cartolagem, obviamente, tentará tirar proveito do sucesso da seleção em gramados asiáticos. São cartolas inexpressivos... Portanto, vamos torcer e comemorar. Em meio de tanta tristeza e miséria, o povo merece alguma alegria!

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